Budō Miyamoto Musashi estrategista

 



Budō: Miyamoto Musashi, o estrategista

 

Fernando Malheiros Filho

 

Ao término da Batalha de Sekigahara (1600), os seguidores do clã deToyotomi Hideyoshi, antes falecido, foram batidos pelos soldados de Tokugawa IeyasuMusashi se achava entre os vencidos. Com apenas 16 anos (nascido em 1584), fora batizado na luta aberta. Provavelmente foi testemunha do encarniçado combate entre os grupos desavindos, do sangue derramado, dos esgares dos moribundos, das horrendas mutilações, da tragédia humana que sempre se ergue nos embates corpo-a-corpo em campo aberto. Antes, e aos 13 anos, já se batera em duelo, vencendo o então famoso espadachim Arima Kihei.

 

A morte era companheira inseparável dos homens daquela época, incorporando-se à vida, notadamente dos samurais, introjetando em cada um a perspectiva da existência finita. Todos que estavam vivos deviam a sobrevivência à habilidade em lutar, mas principalmente ao acaso. Musashi tinha ciência disso. Reconhecia que seu êxito deveria ser debitado às suas habilidades naturais, e à compreensão que dispunha sobre os eventos de sua época, mas principalmente à sorte que o acompanhou quase até o final da vida.

 

É largamente conhecido que Musashi, no caminho da perfeição de sua estratégia e técnicas, bateu-se em mais de sessenta duelos, saindo em todos vitorioso, sempre lembrando que, na época, ao que vencia correspondia a morte do vencido.

 

Até os trinta anos, Musashidedicou-se ao conflito físico, experimentando diversas estratégias, surpreendendo e vencendo os principais espadachins daquele tempo, alguns com golpes de bastão de madeira, enquanto o adversário derrotado servia-se de sua lâmina dura e afiada.

 

Já maduro, Musashi lutou, junto a seu filho adotivo, Miyamoto lori, na Revolta de Shimabara (1637-8), então ao lado de Hosokawa Tadatoshi contra os camponeses rebeldes. Sua desenvoltura atraiu a atenção do suserano do distrito de Kokura, passando a servi-lo como mestre de esgrima no castelo de Kumamoto.

 

Dessa tarefa Musashisomente se desvencilhou com a morte de Tadatoshi, a pedido de quem escreveu Heihô Sanjügo-jôou “Os 35 artigos sobre a arte militar”, embrião do famosíssimo Gorin no Sho.

 

Morto Tadatoshi, e Musashi já experimentando os sinais do fim de sua existência, recolhe-se à caverna Reigandô, no monte Iwato, local em que desenvolveria seus exercícios espirituais, complementando seus escritos que deixaria à posteridade.

 

Reconhecendo a morte que se aproximava, Musashi apressou-se em concluir o Gorin no Sho, entregando o manuscrito ao filho. Essa circunstância explica a falta de revisão em vários trechos e a repetição de argumentos, dificultado a leitura do texto, já impregnado pelo pensamento da época, pelas metáforas, pelacultura e a introspecção do famoso samurai.

 

Ainda antes de falecer, Musashi dedicou-se a deixar o último de seus legados, o Dokkōdō, ou "O Caminho da Solidão", os 21 aforismas que concentravam sua visão do mundo, iniciando por afirmar que (1) “Aceite tudo como é”, concluindo (21) “Nunca se afaste do Caminho.

 

Musashi finalmente foi derrotado pela última adversária, falecendo em 1645, vítima de câncer. Contava com 61 anos.

 

No Gorin no ShoMusashiserviu-se da cosmovisão zen-budista, dividindo o universo fenomenológico em cinco reinos, anéis ou elementos: A terra, a Água, o Fogo, o Vento e o Nada, cabendo a cada um deles o propósito de explicar um dos aspectos da luta. A Terra cuida da estratégia e da escola que criou, o estilo Niten Ichi Ryu. A Água a advertência de que somente a prática constante aperfeiçoa o praticante. A Fogo trata da luta, e o Vento das demais escolas. Finalmente, o Nada volta-se para aquilo que não tem começo nem fim, ou a aventura metafísica.

 

Ainda que o texto original possa soar incognoscível ao leitor atual, seu estudo cuidadoso revelará os detalhes fundamentais nos quais deve o praticante se deter. Musashi é minucioso, trata do movimento dos pés, do corpo, da postura das mãos, do olhar, da ação, a conduta mental. Distingue o que pode parecer indistinguível, mas se revela de importância transcendental na luta e na vida. Afirma que é necessário diferir olhar de ver, bater de golpear; lembra que se deve aprender a identificar o colapsoa que todos, em algum momento, estarão submetidos.

 

Não sem razão a lições de Musashi representaram elemento de reflexão aos japoneses vencidos na 2ª Guerra, incentivando a reconstrução do país em escombros ao final do conflito, servindo, posteriormente, de bússola para os homens de negócios, que se julgam os samurais da atualidade.

 

Mais do que tudo, Musashihaverá se ser referência para os praticantes de artes marciais, em especial as japonesas. Traduz o sentimento de sua época, a cosmovisão em que estava envolvido, mas finca profundamente os valores e constatações que, devidamente ajustados, servem a qualquer período. Afinal, a morte, parceira íntima dos samurais, é, e sempre será, o evento final da existência que justifica a vida.



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