Getulio Vargas




Getúlio Vargas:    Temido ou amado ?

A construção de um mito político
Para realizar grandes sonhos
 necessitamos grandes sonhos. [Hans Seyle]

Em agosto de 2004, o Jornal da ADufrgs-Sindical, Representando os Docentes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul   publicou excelente artigo da professora Claudia Wassermann sobre a notável trajetória política de Getúlio Vargas que governou todo país durante duas décadas do séc.XX. Chegando ao poder numa revolução, mantendo-se através de um golpe, e retornando nos "braços do povo", esse conjunto de circunstâncias singulares na história contemporânea mundial fazem de Getúlio Vargas uma das mais importantes, senão a mais destacada personalidade da história brasileira do período.

Tendo em vista as ações e o legado da direção do Brasil durante mais de 18 anos, o mais conhecido ex-aluno da Faculdade Livre de Direito de Porto Alegre, hoje integrante da UFRGS, de Getúlio Vargas, pode ser considerado a maior personalidade política da história!



Getúlio Vargas:    Temido ou amado ?
A construção de um mito político

A ascensão de Getúlio Vargas ao poder no Brasil transformou-se no marco da renovação da cultura política das massas populares e foi responsável pela constituição de um mito histórico nacional cujas referências continuam presentes até hoje.
Deputado estadual em três mandatos; Deputado Federal entre 1923 e 1926; líder da bancada gaúcha na Assembléia Nacional; Ministro da Fazenda de Washington Luís; Governador do Rio Grande do Sul entre 1928 e 1929; Chefe do Governo Provisório entre 1930 e 1934; Presidente eleito pela Assembléia Nacional Constituinte em 1934; Ditador entre 1937 e 1945; e Presidente eleito pelo voto direto em 1950, Vargas terminou sua carreira política de modo violento e inusitado, através do suicídio em 24 de agosto de 1954.
Getúlio Vargas tornou-se referência no cenário político brasileiro não apenas em função da longa duração de seu poder à frente do executivo nacional, mas sobretudo pelas suas ações inéditas, originais e incomuns que marcaram a sua vida pública e transformaram o país. A exemplo do Príncipe, de Nicolau Maquiavel, Getúlio Vargas foi amado e temido. Sua biografia teve a marca do paradoxal e do contraditório.
Getúlio Vargas, o político gaúcho escolhido para representar a Aliança Liberal nas eleições presidenciais de 1930, nasceu em 19 de abril de 1883, em São Borja. Filho de uma família muito próspera, aos 15 anos Getúlio ingressou no serviço militar. Em 1904 iniciou a Faculdade de Direito em Porto Alegre, onde conheceu João Neves da Fontoura, Maurício Cardoso, Góes Monteiro, Eurico Gaspar Dutra e Firmino Paim Filho, com os quais fundou o Bloco Acadêmico Castilhista.
Exímio orador e colaborador do jornal O Debate, órgão da juventude castilhista, Getúlio Vargas destacou-se como herdeiro da boa tradição positivista local. Transformou-se em líder do Partido Republicano Riograndense na Assembléia Legislativa e revelou-se hábil negociador. Em meio à guerra civil de 1923, elegeu-se deputado federal e, três anos mais tarde, seu trabalho na Comissão de Economia e Finanças da Câmara Federal foi reconhecido pelo presidente Washington Luís, que o convidou para o Ministério da Fazenda. Logo veio sua indicação para representar o PRR nas eleições estaduais como candidato a governador. Em 25 de janeiro de 1928, Getúlio Vargas ocuparia o cargo de governador do Rio Grande do Sul.
O governador do Partido Republicano Riograndense, agremiação política que estava no poder desde a proclamação da República, não se contentava em ser apreciado apenas pelos seus correligionários. Getúlio convidou opositores do Partido Libertador para fazerem parte do governo e cuidava pessoalmente para que os articulistas do órgão oficial do PRR, o jornal A Federação, não insultassem a oposição. Fomentou o desenvolvimento da agricultura, da pecuária e do comércio estadual, amparou o charque e o arroz e apoiou o desenvolvimento tecnológico do trigo; fundou o Banco do Estado do Rio Grande do Sul e estimulou a criação da primeira empresa de aviação comercial do país, a Varig; buscou investimentos federais e estrangeiros e auxiliou no incremento da extração de carvão, na diminuição dos preços dos fretes, na criação de sindicatos de produtores; e foi implacável com a corrupção política, demovendo dos cargos àqueles que praticassem fraude eleitoral. Paradoxalmente, o próprio Getúlio cometera fraudes no tempo em que era assessor de Borges de Medeiros e presidente da Comissão de Verificação, responsável pelas listas eleitorais e contagem de votos.
Depois de governar o estado por um ano e meio, ele aceitaria, após alguma relutância, a tarefa de representar a Aliança Liberal nas eleições presidenciais de 1930. Uma inusitada disposição para a participação política percorreu o Brasil entre os anos de 1929 e 1930. A Aliança Liberal constituiu-se num forte indicativo da decadência do sistema oligárquico fechado e tradicional, onde persistiam práticas políticas excludentes: voto a cabresto, fraude e corrupção no processo eleitoral, poder dos coronéis e persistência de clientelismo político durante toda a Primeira República e predomínio político de setores ligados ao setor primário-exportador da economia.
Os grupos que se sentiram atraídos pelo discurso da Aliança Liberal eram muito heterogêneos; velhos oligarcas, quadros civis mais jovens, tenentes, operários e classes médias eram aqueles que se sentiam prejudicados pelo sistema oligárquico.
E embora Vargas pertencesse à mesma elite oligárquica encastelada no poder desde a proclamação da República, seu governo provisório foi marcado pela criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio e do Ministério da Educação e Saúde Pública; pela promulgação de um novo Código Eleitoral, que dava direito de voto às mulheres; pela lei de sindicalização; a instituição de uma jornada de trabalho de 48 horas e outros temas onde se destacava o inédito encaminhamento dos problemas sociais do Brasil.
Depois de eleito presidente pela Assembléia Nacional Constituinte de 1934, perto do final desse mandato, Vargas não admitia deixar o poder, especialmente para seus mais ferozes adversários. Quando o país oscilava entre as propostas de socialismo do PCB de Luis Carlos Prestes e o integralismo da AIB de Plínio Salgado, Getúlio encomendou a Francisco Campos uma constituição fascista e deu um golpe de Estado em novembro de 1937, instaurando o Estado Novo. Uma ditadura que criou mecanismos originais de controle da oposição, através da censura e prisão, e promoveu a propaganda do regime. Ao mesmo tempo, criou a Lei do Salário Mínimo, organizou a Força Aérea Brasileira, o Correio Aéreo Nacional e negociou empréstimo norte-americano para construção da Usina de Volta Redonda. Titubeou em apoiar a democracia representada pelos Aliados na Segunda Guerra Mundial e deu motivos aos adversários políticos para derrubá-lo em 1945. Antes disso, criou os partidos que o trariam de volta ao poder, o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e o Partido Social Democrático (PSD). Entre a renúncia em 1945 e a eleição presidencial de 1950, o movimento brasileiro mais contundente era o "queremismo" ou "queremos Getúlio".
Eleito no final de 1950, com 48, 7% dos votos, Getúlio tomou posse em janeiro de 1951 e esse último mandato foi caracterizado por uma política marcadamente populista. Sua perspectiva nacionalista no que dizia respeito à lei de inversões estrangeiras desagradava os militares, os investidores internacionais e as elites brasileiras. A nomeação de João Goulart para o Ministério do Trabalho em 1953, sua proposição de aumento de 100% do salário mínimo e a execução dessa promessa em 1954, foram o estopim de uma crise anunciada. Desde o começo do mandato, assessores e familiares de Vargas eram acusados de tráfico de influência. A pressão da oposição e a ameaça de golpe militar somaram-se aos episódios que envolviam amigos e partidários de Vargas em atos ilícitos e resultaram no seu suicídio no dia 24 de agosto de 1954. As manifestações populares que se seguiram ao suicídio deram a dimensão exata do mito político no qual se transformaria o presidente Getúlio Vargas.
Claudia Wassermann
Professora de História Contemporânea da América Latina na UFRGS e Doutora em História Social pela UFRJ
A influência da Faculdade na vida Social e política do RS e do Brasil tornou-se notória, principalmente na fase "áurea" – até os anos 50. Na segunda metade do século XX, especialmente a partir dos extremos desencadeados pela Revolução de 64.    Primeiro, a restrição à liberdade de informações e conseqüentemente de pensamento prejudicou a qualidade do ensino. Receosos de dizerem o que pensavam, os professores não conseguiam passar aos alunos a plenitude cultural. Depois, a nova situação política liberal demais prejudicou a autonomia universitária. Essa situação começa a mudar a partir de década de oitenta com uma nova geração de professores.
A "Casa de André da Rocha" – alusão a um dos principais fundadores da Faculdade, um dos pilares da construção e doador do terreno sobre o qual foi erigida a secular instituição, - possui formandos com destaque além de Getúlio Vargas:  João Neves da Fontoura e João Goulart na vida política. Na magistratura,  vários Presidentes do Tribunal de Justiça.  Na docência, Armando Câmara e Ruy Cirne Lima, que também mereceu destaque na doutrina, e Maurício Cardoso, na advocacia.
Da História da Faculdade  Professor Clóvis Veríssimo do Couto e Silva
Saiba ainda mais sobre Getúlio Vargas, o gaúcho que mudou o Brasil – e as insuspeitas ligações com o presidente argentino J.D. Perón:
PÉRON + VARGAS,  quem diria !
No primeiro semestre de 2005,  a editora Record publica livro de autoria do jornalista paulista Hamilton Almeida, cujo título provisório é “Sob os Olhos de Perón – O Brasil de Vargas e as Relações com a Argentina”.
O prefácio da obra foi escrito pelo historiador gaúcho Décio Freitas falecido em março de 2004 e revela que Perón financiou a campanha presidencial de Getúlio Vargas. Segundo o jornalista, documentos inéditos localizados em Buenos Aires, onde foi correspondente dos jornais Zero Hora e Gazeta Mercantil Latino-Americana, de 1994 a 2001, mostram que os “homens de Perón” acompanharam tudo o que acontecia no Brasil traçando interessante visão do país, do governo Vargas e das pessoas influentes à época.

Almeida merece crédito pelo seu mais recente livro, relatando a dramática e praticamente desconhecida história do cientista Roberto Landell de Moura (1861-1928), que a editora Debras Verlag, da cidade de Konstanz, Sul da Alemanha, lançou em 2004 com titulo de “Pater und Wissenschaftler” (“Padre e Cientista”).
Bibliografia.  Getúlio Dornelles Vargas nasceu em São Borja (RS) no dia 19 de abril de 1882, filho de Manuel do Nascimento Vargas e de Cândida Dornelles Vargas. Foi deputado federal pelo Rio Grande do Sul (1923-1926), Ministro da Fazenda (1926-1927), Presidente do Rio Grande do Sul (1928-1930), Revolucionário em 1930, Presidente da República (1930-1945), Constituinte em 1946, Senador pelo Rio Grande do Sul (1946-1949) e Presidente da República (1951-1954). Suicidou-se com um tiro no peito na madrugada de 24 de agosto de 1954, no Rio de Janeiro, após informado de que os Altos Comandos Militares exigiam seu licenciamento do cargo de Presidente da República como condição para a solução da crise política dos últimos anos de seu segundo mandato, agravada pelo atentado do dia 5 de agosto contra o jornalista Carlos Lacerda - com a participação de membros da guarda pessoal de Vargas - e no qual morreu o major da Aeronáutica Rubens Vaz.
Bacharel pela Faculdade de Direito de Porto Alegre (1907), saiba sobre a histórica Faculdade clicando aqui ó elegeu-se pelo Partido Republicano Rio Grandense deputado estadual, deputado federal e líder da bancada gaúcha, entre 1923 e 1926. Foi Ministro da Fazenda de Washington Luís (1926-27) e presidente do Rio Grande do Sul (1927-1930). Em 1929 candidatou-se à presidência da República na chapa oposicionista da Aliança Liberal. Derrotado, chefiou o movimento revolucionário de 1930, através do qual assumiu em novembro deste mesmo ano o Governo Provisório (1930-34).  Durante este período, Vargas deu início à estruturação do novo Estado, com a nomeação dos interventores para os governos estaduais, a implantação da justiça revolucionária, a criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio e a promulgação das primeiras leis trabalhistas.
Em 1932, eclodiu a Revolução Constitucionalista em São Paulo, quando o Partido Republicano Paulista e o Partido Democrático de São Paulo, unidos em uma frente única, organizaram grande contingente de voluntários em luta armada contra o Governo Provisório. Iniciado em 9 de julho, este movimento estendeu-se até 1º de outubro.
O término do movimento paulista marcou o início do processo de constitucionalização. Em novembro de 1933, instalou-se a Assembléia Nacional Constituinte, responsável pela promulgação da nova Constituição e pela eleição de Getúlio Vargas como presidente da República, em julho de 1934.
Durante o período em que governou constitucionalmente o país, cresceu a atuação da Ação Integralista Brasileira (AIB), de inspiração fascista, e surgiu a Aliança Nacional Libertadora (ANL), movimento polarizado pelo Partido Comunista Brasileiro, então Partido Comunista do Brasil (PCB). O fechamento da ANL, determinado por Getúlio Vargas, bem como a prisão de alguns de seus partidários, precipitaram as conspirações que levaram à Revolta Comunista de 1935, que eclodiu em novembro em Natal, Recife e no Rio de Janeiro.
Em 1937, preparavam-se as eleições presidenciais para janeiro de 1938, quando foi denunciado pelo governo a existência de um plano comunista, conhecido como Plano Cohen. Esta situação criou um clima favorável para a instauração do Estado Novo, que ocorreria em novembro deste ano.
ESTADO NOVO
Com a instauração do Estado Novo em 10 de novembro de 1937, Getúlio Vargas determinou o fechamento de Congresso, outorgou uma nova Constituição, que lhe conferia o controle dos poderes Legislativo e Judiciário. No início do mês seguinte, Vargas assinou decreto determinando o fechamento dos partidos políticos, inclusive a AIB. Em 11 de maio de 1938, os integralistas insatisfeitos com o fechamento da AIB, invadiram o Palácio Guanabara, numa tentativa de deposição de Vargas. Esse episódio ficou conhecido como Levante Integralista.
Entre 1937 e 1945, duração do Estado Novo, Getúlio Vargas deu continuidade à estruturação do Estado, orientando-se cada vez mais para a intervenção estatal na economia e para o nacionalismo econômico. Foram criados nesse período o Conselho Nacional do Petróleo (CNP), o Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP), a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e a Fábrica Nacional de Motores (FNM), entre outros.
Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, em 1939, Vargas manteve um posicionamento neutro até 1941, quando da assinatura do acordo entre Brasil e Estados Unidos, pelo qual o governo norte-americano se comprometia a financiar a construção da primeira siderúrgica brasileira, em troca da permissão para a instalação de bases militares no Nordeste.
Após o torpedeamento de navios brasileiros por submarinos alemães, em 1942, foi declarado o estado de guerra à Alemanha, Itália e Japão - países do Eixo. Em novembro do ano seguinte, Vargas criou a Força Expedicionária Brasileira (FEB), cujo primeiro escalão foi mandado em julho de 1944 para combater na Itália.
Com o término do conflito em 1945, as pressões em prol da redemocratização ficaram mais fortes, uma vez que o regime do Estado Novo não se coadunava com os princípios democráticos defendidos pelos países aliados durante todo o conflito. Apesar de algumas medidas tomadas, como a definição de uma data para as eleições, a anistia, a liberdade de organização partidária, e o compromisso de fazer eleger uma nova Assembléia Constituinte, Vargas foi deposto em 29 de outubro de 1945, por um movimento militar liderado por generais que compunham seu próprio ministério.
DEPOSIÇÃO E VOLTA AO PODER
Afastado do poder, Getúlio Vargas retirou-se para sua fazenda em São Borja, no Rio Grande do Sul, apoiando a candidatura do general Eurico Dutra, seu ex-ministro da Guerra, à presidência da República. Nas eleições para a Assembléia Nacional Constituinte de 1946, Vargas foi eleito senador por dois estados: Rio Grande do Sul, na legenda do Partido Social Democrático (PSD), e São Paulo, pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Por esta legenda, foi também eleito representante na Câmara dos Deputados por sete estados: Rio Grande do Sul, São Paulo, Distrito Federal, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia e Paraná. Assumindo seu mandato no Senado como representante gaúcho, Getúlio Vargas exerceu também a legislatura que se seguiu (1946-1949).
Candidato à presidência da República pelo PTB, em 1950, Getúlio Vargas derrotou os candidatos, Eduardo Gomes (UDN) e Cristiano Machado (PSD), elegendo-se com 3.849.000 votos.
Seu segundo período de governo foi marcado pela retomada da orientação nacionalista cuja expressão maior foi a luta para a implantação do monopólio estatal sobre o petróleo, com a criação da Petrobrás e pela progressiva radicalização política. Vargas enfrentava oposição cerrada por parte da UDN, em especial do jornalista Carlos Lacerda, proprietário do jornal carioca Tribuna da Imprensa .
SUICÍDIO E CARTA-TESTAMENTO
O atentado realizado contra Lacerda no início de agosto de 1954, no qual foi morto o major-aviador Rubem Florentino Vaz, detonou a crise final do governo, pelo envolvimento da guarda pessoal de Vargas no episódio. Para a investigação do que ficou conhecido como Atentado da Toneleros, foi instaurado um inquérito policial-militar, pelo Ministério da Aeronáutica. Pressionado pelas Forças Armadas, durante reunião ministerial realizada na madrugada de 23 para 24 de agosto, Vargas se viu confrontado com a eminência da renúncia ou deposição, e suicidou-se com um tiro no coração, deixando uma carta-testamento em que acusava os inimigos da nação como os responsáveis por seu suicídio.
Texto extraído do site do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC), da Fundação Getúlio Vargas. O texto está disponível no endereço eletrônico http://www.cpdoc.fgv.br

A expressão "Era Vargas" se refere ao importante período de nossa História Contemporânea iniciado pela Revolução de 1930 e que foi marcado por grandes transformações econômicas e sociais. Para alguns intérpretes a Era Vargas pode ser dividida em duas fases, correspondentes aos dois períodos em que Getulio ocupou a presidência da República: de 1930 a 1945, e de 1951 a 1954. Para outros, porém, a Era Vargas seria mais ampla: se iniciaria em 30 mas se estenderia até o final do regime militar de 1964 a 1985 (incluindo até mesmo o período marcado pela Constituição de 1988). De um modo ou de outro, porém, o termo é freqüentemente utilizado para designar um período de forte intervenção do Estado na economia, com grande centralização de recursos e crescimento das agências regulatórias e empresas estatais, num esforço de grandes proporções voltado para a industrialização e rápido desenvolvimento econômico do país.
O governo Vargas iniciou-se com o movimento armado de 1930, que derrubou o governo de Washington Luís e pôs fim à chamada República Velha. Vargas foi chefe do Governo Provisório de 1930 a 1934, quando se tornou presidente eleito indiretamente pela Assembléia Nacional Constituinte. Em 1937 assume a chefia do governo ditatorial, e é deposto em 1945. Volta ao poder pelo voto direto em 1950 e sai do palácio no dramático 24 de agosto de 1954, quando resolve a crise político-militar do momento pondo fim à vida.
A geração que galgou o poder junto com Vargas transformou profundamente a estrutura e o escopo do poder, passando este a agir sobre setores da sociedade até então mantidos à margem da ação do governo. No seu tempo consolidou-se a crença de que no Estado, do Estado e pelo Estado viria a solução dos problemas brasileiros. Dessa crença derivaram inúmeras iniciativas do governo que marcaram pelo menos 60 anos da história brasileira. Foi através delas que o Brasil deixou de ser um país agrícola, com a maioria de sua população vivendo no campo, para chegar ao que é hoje, uma sociedade urbano-industrial com todos os problemas decorrentes dessa transformação em tão rápido espaço de tempo.
No plano político, a Revolução de 1930 produziu um movimento de centralização que transferiu o poder dos estados da federação para o governo central, o qual passou a assumir papel crescente na sociedade e na economia. No plano econômico, teve lugar um intenso movimento de industrialização e urbanização que, nos anos 50, se fez acompanhar de políticas deliberadas de desenvolvimento. O processo de modernização envolveu um Estado capaz de agir sobre setores da economia e a criação de diferentes órgãos para a implementação das novas políticas.
No plano social, foi criado o Ministério do Trabalho, assim como a Justiça do Trabalho, para atuar nas relações entre o capital e o trabalho. A ação do Estado regulando as atividades profissionais e a estrutura sindical com o imposto único permaneceram como legados da Era Vargas. No plano cultural, o governo criou instituições que atuaram nos campos da educação formal, do teatro, da música, do livro, do rádio, do cinema, do patrimônio cultural, da imprensa. Abriu espaço para a crescente participação dos intelectuais no projeto de construção de uma identidade nacional. Pretendeu modernizar resgatando as tradições nacionais através da ação do Estado no campo da cultura.
O papel do Estado no Brasil contemporâneo foi central tanto nos períodos de governo autoritário (de 1937 a 1945 e de 1964 a 1985) quanto no período de democracia liberal, com partidos e Congresso em funcionamento (de 1945 a 1964). Este pode ser entendido como um dos principais legados da Era Vargas.
Texto extraído da apresentação do CD-ROM " A Era Vargas - 1º tempo - dos anos 20 a 1945 ", lançado pelo CPDOC da Fundação Getúlio Vargas, em 1997, sob coordenação-geral da prof. Lúcia Lippi Oliveira. O texto está disponível no endereço eletrônico http://www.cpdoc.fgv.br
Vargas ficou conhecido como o "pai dos pobres"
Ao longo de sua primeira passagem pelo poder (1930-1945), mas principalmente durante o período do Estado Novo (1937-1945), Vargas implementou, pela 1ª vez na História do país, uma abrangente política de direitos sociais e trabalhistas, alguns destes antigas reivindicações das classes populares brasileiras. Além disso, ao longo do Estado Novo essas realizações foram sistematicamente divulgadas por um aparato de propaganda de massas que prestaram um verdadeiro "culto à personalidade" do então ditador.
"Populismo"? Por que Getulio Vargas - e outros - foram chamados de "populistas"?
O termo "populismo" é um dos mais controversos da literatura política, possuindo várias conotações. De modo geral, contudo, o termo tem sido utilizado, no Brasil e na América Latina, para designar a liderança política que procura se dirigir diretamente à população sem a mediação das instituições políticas representativas, como os partidos e os parlamentos - ou ainda contra elas - apelando a imagens difusas como as de "povo", "oprimidos", "descamisados", etc. Em nossa história recente, líderes como Vargas , João Goulart , Juscelino Kubitschek , Jânio Quadros , Ademar de Barros, Leonel Brizola, e outros, foram chamados de "populistas".
Texto adaptado do site http://www.cpdoc.fgv.br do CPDOC, Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil, da Fundação Getúlio Vargas, onde o acervo de Getúlio Vargas é o mais pesquisado, a qual acaba de disponibilizar a consulta de todo acervo via Internet:
Os originais do diário de Getúlio Vargas e outros documentos escritos entre 1930 a 1942, num total de 55.000 páginas, podem ser acessados gratuitamente, inclusive fotografias, que podem ser reproduzidas: www.cpdoc.fgv.br/comum/htm.
Outras fontes de consulta:
ABREU, Luciano Aronne de. Getúlio Vargas: a construção de um mito (1928-30). Porto Alegre: Edipucrs, 1997.
FARIA, Antônio Augusto; BARROS, Edgard Luiz. Getúlio Vargas e sua Época . São Paulo: Global ED.1997.
FERREIRA, Jorge. Trabalhadores do Brasil: o imaginário popular 1930-1945 . Rio de Janeiro: Fundaçao Getúlio Vargas, 1997.
FRANCO, Sérgio da Costa. Getúlio Vargas e outros ensaios. Porto Alegre : Ed. da Universidade/UFRGS, 1993.
GETÚLIO VARGAS: edição histórica . São Paulo: Abril, [s.d].
MENDES, Oswaldo. Getúlio Vargas . São Paulo: Moderna, 1998.
PEIXOTO, Alzira Vargas do Amaral. Getúlio Vargas: meu pai. Rio de Janeiro: Globo, 1960.
SILVA, Hélio. 1945, porque depuseram Vargas . Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1976. (O Ciclo de Vargas, v.16)
SILVA, Hélio. Vargas: pensamento político. Porto Alegre: L&PM, 1980.
VARGAS. Getúlio. Getúlio Vargas: diário 1930-1936 . São Paulo: Siciliano; FGV, 1995.
VARGAS. Getúlio. Getúlio Vargas: diário 1937-1942. São Paulo: Siciliano; FGV, 1995.

* Publicações disponíveis no Acervo da Biblioteca Pública do Estado do Rio Grande do Sul ( www.bibliotecapublica.rs.gov.br
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 A influência de Vargas e de outros rio-grandenses, governando o Brasil na maior parte do Séc.XX, pode ser mensurada pelo bairrismo anti-gaúcho especialmente de parte de cariocas e paulistas enciumados. Entenda esse bairrismo 
Reprodução do texto publicado em: http://www.padilla.adv.br/prof/getulio.htm  

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