(01.04.10)
Por Ivan Cezar Ineu Chaves,
advogado (OAB/RS nº  25.055)
 
O artigo de autoria do colega Carlos Augusto  Mazzaferro, veiculado no Espaço Vital , edição de  23/03/2010 merece especial atenção e , sobretudo, instiga pelo seu desfecho,  quando encerra com a exclamação : "como tem  gente fazendo de conta!" ...
E tem mesmo ! – Aliás, o ilustre advogado não  poderia ter sido mais feliz em seu artigo, porque coloca um dedo na ferida  aberta de um sistema que está entregue ao caos, ao descrédito, e que não  obstante um silêncio conivente da mídia vem sendo denunciado em espaços  alternativos e graças a artigos corajosos como o assinado por você, meu caro  Doutor Mazzaferro.
 
Sabe meu  distinto colega, que represento uma empresa estrangeira , à qual presto serviços  há quase duas décadas , mantendo contrato para atender seus processos em todo o  Estado do Rio Grande do Sul. Não divulgo o nome porque não tenho autorização  para isso , mas posso afirmar que trata-se de uma das mais conceituadas  corporações industriais na área de insumos agrícolas. São ações de significativa  repercussão econômica.
 
Pois  veja , colega , os executivos dessa empresa não conseguem mais encontrar  palavras para justificar aos seus diretores que os processos onde se busca a  recuperação de ativos estarem tramitando, em sua grande maioria, há mais de dez  anos – sem qualquer solução objetiva. E isso gera lá fora – onde está o capital  internacional  - um conceito terrível das nossas instituições , não em vão  o tema já foi abordado em publicações como "The  Economist" e "Financial  Times".
 
Mas vamos aos  fatos.
Na Comarca de Pelotas  tramita um processo de execução que foi ajuizado no ano de 1997 , onde os  devedores ( grandes produtores rurais ) nunca negaram o débito e, no entanto,  discutindo apenas minúcias estão a interpor recursos e mais recursos, alguns  admitidos com efeito suspensivo, não obstante previsão legal de recebimento  apenas no devolutivo. Em suma , com uma "mão frouxa" do órgão julgador que  poderia ter sido mais eficaz nos despachos .
 
Na Comarca de São Lourenço do Sul, também  rompendo uma década de tramitação, houve o "desaparecimento" misterioso dos autos do  processo, obrigando a promoção de uma restauração, mesmo fenômeno ocorrido na  Comarca de Itaqui. No caso de São Lourenço, como não bastasse o "sumiço" dos processos, a ausência de  documentos perdidos quando entregues à guarda do Foro foi usada como  argumentação contra a empresa  ...
 
Na Comarca de Caçapava do Sul tramita uma ação  que acabou de completar agora no mês de março de 2010, nada mais , nada menos do  que 11 anos de andamento em primeira instância - ou seja, não foi sequer  proferida a sentença de 1º grau , para desespero da empresa e para deterioração  dos nervos de quem promove seus interesses em juízo.
 
Na Comarca de Camaquã, está prestes a completar  dez anos de andamento uma execução onde recentemente foi interposto um agravo de  instrumento contra o indeferimento de uma petição protelatória onde, inclusive,  o juiz cominou pena pela litigância de má fé.
 
Em suma, citei  diversas comarcas de diferentes pontos cardeais do Estado do Rio Grande do Sul –  em todas elas processos com dez ou mais anos de tramitação – demonstrando que  não são situações isoladas , casos especiais. Não – a verdade nua e crua é que  os processos estão se estendendo, ao natural , por mais de uma década . Ações  nem tão complexas assim já exigem vários anos de trâmite em primeira instância,  para depois inaugurar uma ciranda de novos recursos.
 
Digo, então, sem receios , que o colega foi  muito feliz na conclusão de seu artigo. Há um hipócrita jogo de palavras e  um "faz de conta" diante da real  situação do Judiciário e são poucas – raras – as vozes que se ouvem com  propostas sérias para a modificação desse estado das coisas. 
 
Por isso escrevo para dar meus parabéns e, com  estes parágrafos , enriquecer o excelente artigo do colega !
 
(*) E.mail: ineuadvocacia@terra.com.br
 
 
Nenhum comentário:
Postar um comentário