Os suicidas por Fernando Malheiros

O suicidio é uma das mazelas desta terceira década do Século XXI pois ceifa uma vida e afeta todos entes queridos. Essa doença é intimamente ligada à depressão, uma enfermidade que, em 99% dos casos, está associada aos baixos índices do hormônio esferoidal chamado de vitamina D3, estes decorrentes das narrativas demonizando o sol, criadas nos anos oitenta, repetidas em jogral por todo jornaLIXO e (de)formadores de opinião, em continuidade à mentira do "aquecimento global".

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Os suicidas

 

Fernando Malheiros filho

 

Essa atitude, por vezes desesperada, ou motivada por extremo pragmatismo, desafia a compreensão dos atos humanos. Há os que deixam a vida por razões heroicas, outros para abreviar o sofrimento certo, alguns antecipando-se à execução, muitos, em sua maioria, mercê do desespero, vários simplesmente pelo mal-estar de viver, imersos em profunda e irremediável depressão.

 

A história revela o suicídio anônimo, daqueles cujos infortúnios transcendem a capacidade de suportá-los. Há os que, frente ao inumano cativeiro, decidem evadir-se deste mundo, como passou com centenas daqueles que, vindo escravizados da África, no hediondo transporte, faziam-se ao oceano para se afogar ou, se não antes, serem trucidados por caridosos tubarões. Também os que, mantidos em maus-tratos, enlouqueceram e, em gesto de última razão, deram fim ao sofrimento, como passava nos campos de concentração, sobretudo os nazistas, nos demais e de outras extrações que teimamos esquecer.

 

Os suicídios comumente não permitem a apuração exata de suas razões e circunstâncias. Até hoje discute-se os motivos e os fatos acontecidos em Massada, Israel, no ano 74 d.C., quando da Primeira guerra romano-judaica. O relato é creditado a Flávio Josefo, por sua vez o judeu Yosef ben Mattityahu, aprisionado pelos romanos, passando a responder pelo nome latino Flavius Josephus, o historiador daqueles tempos cujos escritos chegaram até nós.

 

Não há certeza quando aosacontecimentos. Passou à história que o grupo de irredentos subiu à fortaleza de Massada, no altiplano situado a sudoeste do Mar Morto, cimo no qual paranoicoHerodes mandou construir e fortificar seu recanto. Lá pretendiam resistir ao cerco romano, munidos de víveres suficientes para o tempo de resistência. A situação agravou-se e o líder dos insurretos, Eleazar ben Ya'ir, teria instado a todos que melhor seria morrer como livres do que sobreviver no cativeiro romano.

 

Havendo norma judaica que não admite o suicídio, convencionou-se que, por sorteio, a um deles caberia subtrair a vida dos demais, somente a esse sobrando o suicídio e o escárnio divino. E assim se fez.

 

Na literatura, até pela enorme dramaticidade do gesto de pôr fim à própria vida, não foram poucos os autores a dele se servir ao propósito de descrever a desgraças que acompanham a jornada de viver. O grande William Shakespeare o faz em seu Romeo and Juliet, compondo o cenário em que o apaixonado e desavisado Romeu, pensando ver morta sua Julieta, entrega-se ao desespero, e sorve o veneno fatal, destino semelhante reservado a ela, quando desperta, suicidando-se com o punhal dele.

 

Goethe, no seu epistolar “Sofrimentos do jovem Werther”, descreve o amante estilhaçado pela paixão pela mulher (Carlota) que pertence a outro homem, até o limite de lhe faltar o oxigênio vital à existência, não sobrando alternativa senão o desespero, e a morte. 

 

Não foram poucos, como os heróis de Massada que, ao longo da história, viram-se na falta de alternativa, mesmo aqueles que até mereciam morrer pelo que fizeram aos demais. Assim parte enorme da hierarquia nazista nos derradeiros momentos quando a 2ª Guerra entrava em seu epílogo. Bormann, Himmler, Rommel, Goebbels, Göering (já na prisão), até mesmo Hitler e sua esposa Eva Braun.

 

Absolva-se Rommel, que cometeu o suicídio com cianeto, quando Hitler constatou que estivera envolvido no atentado contra ele perpetrado, de 20 de junho de 1944, capitaneado pelo Coronel Claus von Stauffenberg, na Toco do Lobo (Wolfsschanze), Quartel General Secreto do Führer na Prússia Oriental.

 

O suicídio de Hitler junto a sua esposa, Eva, até hoje desperta dúvidas. Tentadora versão, pela qual já foram publicadas dezenas de livros, sustentam que Hitler sobreviveu ao fim da guerra, vindo homiziar-se na Argentina, tendo falecido nos anos 1970, no Paraguai. Contando com a contrariedade da maior parte dos historiadores, e com o depoimento daqueles que presenciaram o ato derradeiro do chefe nazista, alguns eventos dão no que pensar. Os Soviéticos tomaram anos até admitir a morte do genocida, e chegaram a questionar a Espanha sobre o paradeiro de Hitler que, nos termos da versão daqueles que defendem sua sobrevivência, fugiu da Europa por Barcelona. Ademais, outras tantas testemunhas sul-americanas confirmam a presença do líder nazista por aqui, na Argentina, na Colômbia e no Paraguai. Os defensores da tese apresentam documentação da CIA, do FBI e do Serviço Secreto Inglês, o célebre MI6, que admite a hipótese. Teriam morrido, no lugar de Hitler e Eva Braun sósias ou duplos, cujo corpo inteiramente carbonizado jamais permitiu a identificação.

 

É que o suicídio sempre representa muito mais do que um gesto, um momento, enraizando-se na história do suicida e suas circunstâncias. Já foi elevado ao alto padrão de honra, como se dava com o Samurais, que se serviam, para limpar sua honorabilidade, do Seppuku (harakiri), com a dolorosa morte pela evisceração. O ritual sangrento passava pelo corte no baixo abdómen até que as vísceras ficassem à mostra. O suicida deveria ser acompanhando de seu kaishakunin, a quem cabia, após o esventramento, a decapitação do imolado.

 

A prática do Seppuku iniciou-se em meados do Século XII, no Japão, perdurando até a Restauração Meiji, de 1868, quando acabou proibido. Mas, ainda no século XX, o ato encontrou surpreendentes adeptos. O peculiar escritor japonês Yukio Mishima, após tentar o desastrado golpe de estado de 25 de novembro de 1970, desventrou-se praticando o Seppuku. Não faltou sequer o assistente, na pessoa de Hiroyasu Koga: expôs as vísceras e perdeu a cabeça.

 

Ao final da Guerra no Pacífico, muito militares japoneses o fizeram não aceitando a rendição. Ainda em 2001, o ex-judoka, Isao Inokuma, pôs fim à própria vida, aos 63 anos, mediante a morte ritual, provavelmente tentando conjurar o fracasso nos negócios.

 

Há também o suicídio de conteúdo político. Entre nós Getúlio Vargas, no início da manhã do dia 24 de agosto de 1954, disparou contra seu próprio peito, quando constatou que seria deposto e, quiçá, humilhado com a prisão. Getúlio era potencial suicida. Cogitou da alternativa em seus diários quando da Revolução de 1930, e seus descendentes (filho e neto) o acompanharam no gesto. Mas o ato ganhou dimensões épicas, influindo na história posterior do país, absolvendo a figura do Presidente, cujo prestígio tinha desaparecido naqueles turbulentos dias de agosto de 1954.

 

Igual destino foi reservado ao Presidente do Chile, o socialista Salvador Allende, a 11 de setembro de 1973, que se viu militarmente cercado no La Moneda, decidindo, como Getúlio, somente deixar o palácio no esquife. Allende serviu-se do fuzil que lhe presenteara Fidel Castro, atirando contra a própria cabeça, desfecho recentemente confirmado pelos exames médico-legais no esqueleto, em 2011. O mês de setembro, já aziago à época do suicídio de Allende, pois no ano anterior, no mesmo mês, deu-se o atentado contra a equipe olímpica israelense, em Munique,patrocinado pelo grupo setembro negro(referência ao período posterior a guerra dos seis dias), tornou-se ainda mais funesto a 11 de setembro de 2001.

 

Os suicídios seguem ocorrendo, em sua maior parte de forma anônima, e não se afasta da hipótese de que figuras célebres dele se sirvam para se opor aos sofrimentos. Atores e atrizes incensados com o sucesso, acabam soterrados pela dor, como Marilyn Monroe, Robin WilliansPhilip Seymour Hoffman, e, entre nós, Flávio MigliaccioWalmor Chagas e o escritor Pedro NavaNo Japão, talvez o país com mais alta incidência do fenômeno, cogita-se de 25 casos por cem mil habitantes, mas a prática não é incomum em outros quadrantes do planeta, mesmo em países com alto padrão de vida, como os nórdicos, mal servidos da luz solar.

 

Esse mal-estar segue entre nós, sorrateiro, na busca do próximo personagem, aguardando as condições ambientais propícias à sua manifestação, o que talvez sobrevenha com mais intensidade nesses tempos de superficialidade hedonística, nos quais, firmes nas improváveis certezas que não são nossas, somos surpreendidos com o pântano que jaz sob os nossos pés.


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