Pode-se melhorar a Copa 2014?
"Até 1964, o desporto no Brasil e no RS era fantástico", desabafou Cleomar Pereira Lima, em palestra realizada no início da Disciplina de Direito Desportivo, na UFRGS, em 2001. "As Federações Desportivas realizavam o esporte e uniam os clubes."
Exemplo de união foi a Universíade 63, os Jogos Universitários-Mundiais de 1963 - o maior acontecimento esportivo realizado ao Sul do Equador até os Jogos Olímpicos de Sidney, na Austrália, no ano 2000.
Não é pouca coisa: Durante 37 anos não foi feito nada mais grandioso ao sul do Equador do que a Uni 63!
Então, esse evento deixa um legado a ser considerado na realização da Copa 2014.
O desporto universitário:
Durante os dois anos anteriores à Uni 63, centenas de desportistas, dirigentes de Federações, de Clubes, os atletas, os estudantes de todos os níveis, trabalharam para a realização da festa universal esportiva. Construíram o Ginásio da Brigada Militar; todas as instalações e os equipamentos esportivos foram preparados para acolher as disputas. Participaram delegações de 28 países; e 1.500 atletas. Altamente expressivo para a época.
Naquela época, os Jogos Universitários eram a pré-olimpíada. Atraiam total atenção. Os atletas que se destacavam na Universíade, dois anos depois sagravam-se campeões nos Jogos Olímpicos. Na UFRGS, a AAA Associação Atlética Acadêmica organizava os Jogos.
O desporto universitário e estudantil foi de grande expressão até 1964. Instalado o Governo Militar, preocupou-se com a possibilidade de influências de doutrinas alienígenas sobre estudantes. Reprimiram eventos no meio estudantil. Quem mais sofreu foi o desporto, acabando o vínculo do desporto com as Universidades.
Os centros acadêmicos foram proibidos de atuar no desporto, reservado aos clubes. Embora sufocando o universitário, o Governo Militar deu atenção ao desporto praticado exclusivamente no âmbito das Federações que, na época, receberam apoio oficial.
O processo de redemocratização deu o comando aos políticos tradicionais, que cortaram as verbas do desporto, criando um vazio: Enquanto as atrações urbanas proliferavam com as mais variadas atividades e o incremento das transmissões de TV, a insegurança das ruas acabou com o hábito das pessoas saírem de casa para assistir eventos esportivos amadores, que sobreviveram mendigando ajudas, do Bingo a simpatizantes. E o desporto em nível estudantil brasileiro é inexpressivo.
Conheça os divertidos "causos" da Universíade 1963 na apresentação de Rodrigo Koch no livro "Universíade 1963: História e resultados dos Jogos Mundiais Universitários de Porto Alegre" https://docs.google.com/presentation/d/17sOcL6JRPGd_vU3-Z3Z5sja3FEKZFdfi6_I_NFDZohQ/edit?usp=sharing
Esporte e Turismo caminham juntos?
As viagens de turismo são consideradas uma das mais fortes expressões do lazer em nosso tempo e um dos mais importantes fenômenos sociais do planeta; contudo, nem sempre foi assim. Esse fenômeno atual implica intensa mobilidade de pessoas e recursos entre os países e regiões, exigindo a criação ou o aperfeiçoamento de infraestrutura provocando a produção de fortes impactos econômicos, culturais e sociais. Hoje ninguém nega a importância do turismo como um dos motores da modernidade, contudo, permaneceu à margem da História e poucos deram-se conta do quanto o esporte incrementou esse setor.
Assim ilustra a reportagem de 1963 pesquisada por Gilberto Simon:
A história do turismo desenvolve trajetória parecida com a do esporte como registras o SPORT e o HisTur, Laboratório de História do Turismo, da UFF, a estreita relação entre ambos. O turismo até foi considerado uma modalidade esportiva nas décadas 1910-20. Contudo, ao contrário do que muitos pensaram, durante a Segunda Guerra o turismo não ficou paralisado como provam acervos documentais de países como Brasil, Argentina, Uruguai, México e Estados Unidos, mobilizados em fomentar um turismo pancontinental e alternativo ao mercado europeu no período do conflito.
O Journal of Tourism History, da Taylor & Francis Online, pesquisa a história do turismo desde a década de 1960 desde 2009. Editado pelo inglês John Walton conhecido como um dos mais antigos pesquisadores da história do turismo em atividade; suas investigações relacionam viagens turísticas de operários ingleses nos séculos XIX e XX, sem a mitificação do nome do inglês Thomas Cook, considerado o inventor do turismo moderno.
Ema Cláudia Pires, "O baile do turismo: turismo e propaganda no Estado Novo", 2003, investiga o turismo sob o regime de Salazar, em Portugal; Sacha Packs, "La invasión pacífica: los turistas en la España de Franco", 2006, trata do fenômeno turístico na ditadura de Franco, na Espanha. Ambos apontam como o estímulo ao turismo foi importante para o fortalecimento da identidade nacional sob a ideologia desses dois regimes.
Eric Zuellow, cuja obra mais conhecida é Making Ireland Irish: Tourism and National Identity Since the Irish Civil War, 2009, trata da relação entre o turismo e a identidade da nação: o nacionalismo irlandês e as clivagens entre irlandeses e ingleses do ângulo do turismo.
Elisa Pastoriza e Melina Piglia, na Argentina, investigam, respectivamente, a construção da argentina turística, especialmente pela via do peronismo, e a trajetória do Automóvil Club Argentino, uma das principais instituições responsáveis pela construção do turismo rodoviário no país.
Uma pré-história do Turismo no Brasil – recreações aristocráticas e lazeres burgueses (1808-1850), de Haroldo Leitão Camargo, pesquisador do Núcleo de Estudos Estratégicos da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). O autor parte da concepção do turismo como uma invenção social e identifica na passagem para a sociedade industrial no Brasil, as condições possíveis para o surgimento e desenvolvimento de uma cultura do turismo no país.
Estão sendo desenvolvidas no país, âmbito da História, teses e dissertações sobre o passado do turismo sob diversos enfoques, uma delas de Valeria Lima Guimarães, orientada por Victor Melo e defendida em 2012 no Programa de Pós-Graduação em História Comparada da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
O fortalecimento da relação entre as duas disciplinas, a História e o Turismo cresce a ponto de, desde 2011, serem organizados simpósios temáticos nos dois mais importantes fóruns de História e de Turismo do país – O Simpósio da ANPUH (Associação Nacional de História) e o Seminário da ANPTUR (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Turismo), nos quais temos tido ativa participação.
Nesses fóruns, estudiosos de várias regiões brasileiras têm apresentado suas pesquisas apontando cada vez mais – assim como nas discussões acerca da história do esporte no Brasil – que a história do turismo nacional não se resume ao Rio de Janeiro, "Cidade Maravilhosa", capital da nação até 1960 e ainda hoje principal portão de entrada do turista de lazer no país.
As recreações aristocráticas em Pelotas no século XIX, a invenção da "cearensidade" pelo turismo, nos idos dos anos 1960, a invenção das tradições gaúchas para/pelo turismo, a construção da Natal litorânea, os projetos paulistanos de superação do Rio em importância turística, as viagens de turismo na literatura brasileira, o desenvolvimento do turismo noutras cidades fluminenses, como Paraty e Petrópolis, a construção do turismo social no Brasil, entre outros temas, apontam para a relevância das pesquisas históricas que estão sendo desenvolvidas sobre o turismo, com uma investigação séria e profunda das fontes documentais.
História do Turismo no Brasil, coletânea de artigos do I Simpósio de História e Memória do Turismo da ANPUH de 2011 organizada em agosto 2013 por Valeria Lima Guimarães, Celso Castro e Aline Montenegro.
Outras referências bibliográficas:
AGUIAR, Leila Biachi. Turismo e preservação nos sítios urbanos brasileiros: o caso de Ouro Preto. Niterói: Universidade Federal Fluminese/Programa de Pós Graduação em História, 2006 (Tese de Doutorado).
CAMARGO, Haroldo Leitão. Uma pré-história do turismo no Brasil: recreações aristocráticas e lazeres burgueses (1808-1850). São Paulo: Aleph, 2007.
CASTRO, Celso, GUIMARÃES, Valeria e MONTENEGRO, Aline (orgs.). História do turismo no Brasil. Rio de Janeiro: FGV, 2013.
DAIBERT, André Barcelos Damasceno. História do Turismo em Petrópolis entre 1900 e 1930. Rio de Janeiro: Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getúlio Vargas, 2010 (Dissertação de Mestrado).
GUIMARÃES, Valeria Lima. O turismo levado a sério: discursos e relações de poder no Brasil e na Argentina (1933-1946). Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro/Programa de Pós-Graduação em História Comparada.
MARCELO, Hernán Venegas. Patrimônio Cultural e Turismo no Brasil em perspectiva Histórica: encontros e desencontros em Paraty. Niterói: Universidade Federal Fluminense: Programa de Pós-Graduação em História, 2011 (Tese de Doutorado).
PACK, Sasha D. La invasión pacífica: los turistas y la España de Franco. Madrid: Turner, 2009.
PIRES, Ema Cláudia. O Baile do turismo: turismo e propaganda no Estado Novo. Lisboa: Caleidoscópio, 2003.
PASTORIZA, Eliza. La conquista de las vacaciones: breve historia del turismo en la Argentina. Buenos Aires: Edhasa, 2011.
PIGLIA, Melina. Automóviles, Turismo y carreteras como problemas públicos: los clubes de automovilistas y la configuración de las políticas turísticas y viales em la Argentina (1918-1943). Buenos Aires: Facultad de Filosofia y Letras de la Universidad de Buenos Aires, 2009. (Tese de doutorado).
WALTON, John. Welcome to the Journal of Tourism History. In: Journal of Tourism History, 1:1, p. 1-6, 2009. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1080/17551820902739034>>;. Acesso em 15 de novembro de 2013.
ZUELOW, Eric. G. E. Making Ireland Irish: tourism and national identity since the Irish Civil War. New York: Syracuse University, 2009.
Baseado em texto da pesquisadora Valeria Lima Guimarães em http://historiadoesporte.wordpress.com/
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As Rainhas da Beleza tiveram origem no Esporte, sabias? http://padilla-luiz.blogspot.com.br/2013/11/jirgs-rainha-da-beleza-nasceu-no-esporte.html O Esporte é o maior acontecimento social.
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