Escola Técnica Parobé:
“A VERDADE CRUA E NUA”
Baseado em relato do ex-diretor,
Prof. Artus James Lampert Dressler,
A ESCOLA TÉCNICA PAROBÉ foi criada pelos professores do curso de Engenharia da UFRGS em 1/7/1906 e, em breve, completará 109 anos.
Artus James Lampert Dressler foi um dos alunos internos, lá ficou por 7 anos de fevereiro de 1950 a dezembro de 1956 na antiga sede na Rua Sarmento Leite nº 425, hoje o INSTITUTO DE MATEMÁTICA/UFRGS.
Entre 1950 e 1953, aprendeu o ofício de serralheiro e, de 1954 a 1956, cursou o segundo grau em MAQUINAS E MOTORES. Durante todas as férias fazia estágio remunerado na CEEE. Em recompensa, terminado o curso, a admissão nos quadros da companhia era automática.
Artus James Lampert Dressler desenvolveu diversas atividades (ao final desta postagem, um breve registro). Contudo, no país mais corrupto do mundo, onde o governo foi aparelhado pelo FORO DE SÃO PAULO, uma organização vinculada ao narcotráfico e ao crime organizado, decidimos honrar a esse patriota o qual foi - acreditem, advertido publicamente pelo excesso de zelo com a coisa pública. Por isso, no centenário menos um da Escola Técnica Parobé onde tive o privilégio de cursar Eletrônica, homenageamos à Escola na pessoa de seu ex-aluno, ex-professor e ex-diretor.
QUAL O SEGREDO DO PAROBÉ?
A Escola Técnica Parobé era famosa pelo valor de seus egressos. Por conta disto, a fama de qualidade do ensino.
Artus Dressler contou-nos o MISTÉRIO DO PAROBÉ afora a qualidade e dedicação dos professores: O equipamento caindo aos
pedaços e a matéria prima para as tarefas às migalhas eram sublimadas sempre pela INTRODUÇÃO
À VIVÊNCIA “PREMATURA” NO MUNDO DO TRABALHO.
Essa é a
gazua abrindo a porta do segredo do ensino técnico:
trabalho/aprendizagem/vivência de dificuldades; ocupação integral: aulas de
manhã, de tarde e estudo controlado no turno da noite.
Escute esta história
real contada pelo divertido Mario Sergio Cortella sobre como a sabedoria da experiência é
muito mais eficaz que o conhecimento formal.
Na pessoa do Prof. Artus James Lampert Dressler ex-aluno, ex-professor e o mais moço dos diretores de até então, aos 28 anos de idade, homenageamos todos ex-alunos, ex-professores e ex-funcionários da Escola Técnica Parobé.
De 1958
a 1961 Prof. Artus James Lampert Dressler foi professor e COORDENADOR do CURSO
DE MECÂNICA DE AUTOMÓVEIS.
Em
outubro de 1961, convidado pelo subsecretário do ENSINO TÉCNICO, aceitou implantar a ESCOLA TÉCNICA INDUSTRIAL 25 DE JULHO em IJUÍ onde o sucesso da feira industrial foi tanto...
A atividade foi de tal repercussão que o GOVERNO DO ESTADO oficializou, por
decreto, a FEIRA INDUSTRIAL, onde eram expostos e vendidos os trabalhos dos
alunos, isso ao final do segundo ano dos três em que a dirigiu.
Em fevereiro de 1965, numa crise espraiando desde 1964, foi chamado pelo
SUBSECRETARIO DO ENSINO TÉCNICO, com aval explícito do GOVERNADOR DO ESTADO, a
assumir a DIREÇÃO GERAL DA ESCOLA TÉCNICA PAROBÉ; deixava a promissora
empreitada em IJUÍ, onde coadjuvava a ex-aluna do Curso de Edificações, sua esposa,
a professora AMÉLIA MAIS DRESSLER.
De
fevereiro de 1965 a outubro de 1967, como o mais moço dos diretores de até então,
aos 28 anos de idade, e conhecedor de todas as mazelas da história vivida, o Prof.
Artus James Lampert Dressler tomou todas as
providências para ajustar o rumo da Escola meio à deriva. Fez o que era
viável e partiu em busca do seu destino. Algumas das medidas tomadas estão em
anexo, inclusive tentativas de ser cassado pela degradação em “marcha”.
O
GOVERNO DO ESTADO nunca teve condições financeiras para “sustentar” e atualizar
o nível tecnológico da Escola, e foi se degradando pelo obsolescência técnica. Na
visão do Prof. Artus James Lampert Dressler, o que sempre deu “fôlego” para a
escola foi o marasmo tecnológico e a dedicação de alguns professores.
Sobrevivia e era proeminente por ser a única no “status quo” do mofo.
O
ensino da ESCOLA TÉCNICA PAROBÉ foi proeminente enquanto a tecnologia era a das
“carretas” e o marasmo tecnológico era a tônica com a falta de recursos sendo
sempre a companheira inseparável; quando a tecnologia passou a andar aos saltos
cada um deles mais deixava a instituição para trás.
Em
1959 foi recebido, via MEC, de um convênio com o LESTE EUROPEU, em troca de um
saldo comercial com o Brasil, algum equipamento que lhe deu uma fugaz sobrevida
tecnológica; no mais sempre foi um “arroz com feijão”, sem carne.
Em
1960/61, transferiram a escola da Rua Sarmento Leite para a PERIMETRAL e ali
estive até ao final de 1961 quando Prof. Artus James Lampert Dressler foi para
IJUÍ.
Fora
de Porto Alegre, durante os anos de 1962, 63 e 64, ao voltar e assumiu o
comando da escola, como quê retornado à casa, logo tentou FEDERALIZÁ-LA; sabia,
como poucos, o futuro seria cada vez mais tenebroso. Apoiado pelo DIRETOR DO
ENSINO INDUSTRIAL/MEC, DR. JORGE FURTADO, encontrou no GOVERNO DO ESTADO
dificuldades embasadas em “não podermos
perder o PAROBÉ” e dos professores do “como
é que nós ficamos”; evidente seria melhor para todos e muito mais para a
ESCOLA TÉCNICA PAROBÉ: a QUERIDA ESCOLA
que tantos viu crescer e fez adultos.
Entrementes, foi criada a FUNDAÇÃO LIBERATO
SALZANO VIEIRA DA CUNHA, em NOVO HAMBURGO, com participação do GOVERNO FEDERAL,
ESTADUAL E MUNICIPAL, da qual Prof. Artus James Lampert Dressler foi membro do
CONSELHO DELIBERATIVO representando o MEC; compare, hoje, o PAROBÉ com a
FUNDAÇÃO...
Com
a criação de CENTROS FEDERAIS DE EDUCAÇÃO PROFISSIONALIZANTE DO GOVERNO
FEDERAL foi perdida uma bela
oportunidade de o PAROBÉ ser transformado em mais um; era referência e um nome
secular; contudo, o “gauchismo” atravancou.
E
mais, finalmente, a REFORMA DO ENSINO usada como um biombo para escamotear a
verdadeira causa - sempre e cada vez mais - a FALTA DE RECURSOS; o GOVERNO DO
ESTADO nunca teve e cada vez tem menos condições de manter o oneroso ENSINO
TÉCNICO. O resto é cortina de fumaça!!!
Artus James Lampert Dressler enquanto DIRETOR GERAL:
MEDIDAS do Prof. Artus James Lampert
Dressler DURANTE A sua GESTÃO dirigindo o PAROBÉ
Após
a pretensa, imaginada,
suposta e conjecturada
“EXONERAÇÃO MORAL” foi “ADVERTIDO POR
EXCESSO DE ZELO COM A
COISA PÚBLICA”
Destituído
o diretor eleito pelos professores, no meio do mandato, em meados de
fevereiro/1965, foi chamado pelo Governo para assumir a Direção da ESCOLA
TÉCNICA PAROBÉ , de onde era aluno egresso e interno por sete anos, além de
professor nos anos de 1958 a 61. Conhecedor profundo de toda a problemática,
inclusive por ter vivenciando ao longo do tempo as administrações que se
sucediam, tinha como alvo secreto de um dia “chegar lá”. Realizava o seu sonho.
Nós
três anos de sua administração sucederam-se Secretários de Educação, inclusive com Intervenção Militar na SEC, em
nada prejudicando a sua gestão. Apoiado pelo Governador, já com outro Chefe da
Casa Civil, pelo Secretário de Segurança, na figura do seu Chefe de Gabinete,
um Promotor de Justiça e pelo Interventor da SEC, tocou firme seu projeto de
melhorar o seu Querido Parobé. A sua
casa desde há adolescente...
Assumindo
como Diretor, formado Técnico Mecânico em 1956, no ANO DO CINQÜENTENÁRIO, ainda
encontrou a maioria de seus ex-professores e, depois, colegas, agora como
colaboradores. Para todos eles era um aluno administrando o PAROBÉ. Com muita
honra. Um aluno. E do internato...
Em
1966, dez anos depois de formado pela Escola Técnica, era acadêmico da
ECONOMIA/UFRGS, no meio da sua gestão, no ANO DO SEXAGÉSSIMO ANIVERSÁRIO,
lançou um selo comemorativo e instituiu a GALERIA DE EX-DIRETORES buscando
unir todas as forças da comunidade escolar em torno do momento histórico. O fez
sem a sua própria foto incrustada no selo.
A
chegada ao “poder” foi a realização de um sonho e seria um pesadelo se não
conhecesse a cruel realidade que o esperava. Em Ijuí, consagrou-se pela
oficialização da FEIRA INDUSTRIAL e no PAROBÉ, com a láurea por uma inédita e
esdrúxula sentença da SEC em SINDICÂNCIA instaurada, a seu pedido, para
vasculhar sua administração, conforme se
verá adiante.
REPÚDIO
À “EXONERAÇÃO MORAL”
Um professor foi afastado da sala de aula atendendo
pedido de uma comissão de alunos embasado em documentos, uma pilha com mais de
um palmo de altura, desde sempre em poder da Escola. Contudo, a poderosa influência
do professor fez o Secretário de Educação chamar o Diretor ao seu Gabinete e
determinar, na presença do mesmo, a volta imediata dele à sala de aula. O
Diretor, frente aos dois, disse não aceitar “exoneração moral” e deixava de ser
Diretor naquele momento.
Saindo
do Gabinete do Secretário protocolou seu pedido de demissão alegando exoneração
moral efetivada administrativamente solicitando inquérito para verificação da
causa, fato noticiado pela RBS, no jornal da noite. Chamado ao Palácio do
Governo, na manhã do dia seguinte, foi ouvido e banido no cargo pelo
Governador, via Chefe da Casa Civil, e o professor continuou fora da sala de
aula.
A
PRETENSA “CASSAÇÃO”
PELA COMISSÃO
GERAL DE INVESTIGAÇÕES-CGI
Restava
o “trunfo” de uma denúncia em Brasília para cavar a cassação do
Diretor. O processo baixou à Sub-CGI/Rs, para instrução. Chamado por um
dos três membros da Sub-Comissão, um Promotor Público, que
dentre outras providências o ouviu. O professor não retornou à sala de aula.
O
então Diretor nunca manteve vínculo com a Revolução ou Partidos Políticos, só
trabalhava duramente para o Estado e, por via indireta, ao poder, quaisquer que
fossem seus titulares. Quaisquer, já que eles não são proprietários de
absolutamente nada, meros e temporários timoneiros. Empregados do povo! E só!
Absolutamente.
Completam-se
43 anos de providências para conter os roubos sucessivos de equipamentos e bens
das oficinas, dilapidando o patrimônio público e fazendo o ensino afundar. Acmpanhado
do zelador morador no local, o DIRETOR GERAL surpreendeu o segurança da ESCOLA
TÉCNICA PAROBÉ, às 2h30, dormindo no sofá da sala dos professores, só de
cuecas, enrolado na BANDEIRA DO BRASIL.
Aberta
sindicância pela SEC, onde tudo se relata e documenta, entrou em ação o
então SEJUA (Serviço de Justiça
Administrativa, cujo chefe nem advogado era) e ficou o dito pelo não dito.
Provavelmente para descaracterizar intermináveis processos de improbidade
administrativa instalados a pedido do Diretor dando em nada. O Diretor protocolou
pedido de uma varredura na sua própria administração. O pedido só teve curso
depois que entrevista dele com o CHEFE DA CASA CIVIL que determinou, via
telefone, ao SECRETARIO DE EDUCAÇÃO dar andamento a uma total análise da
gestão. Aberta a sindicância, o Dirtor pediu a anexação de todos os processo
pendentes na SEC e “o meio de campo embolou”. Três anos depois, o SEJUA
sentenciou, conferindo-lhe a segunda láurea da sua vida:
“ADVIRTA-SE AO PROFESSOR
ARTUS JAMES LAMPERT DRESSSLER,
Ex-DIRETOR DA ESCOLA TÉCNICA PAROBÈ ,
POR EXCESSO DE ZELO COM A COISA PÙBLICA”.
Quando
deixou a Direção, houve uma revoada de retorno às diversas funções. A alma, em
preito, chora por esse destino dantesco. Escrevera nas areias à beira mar, por
três anos!
Focos do então diretor iluminando, no
quadro negro da dramática realidade vivenciada pela escola porque o dito professor
não era figura isolada na “caçada ao cassável".
1
AULAS
COM DURAÇÃO DE CINQUENTA MINUTOS,
A
QUALQUER CUSTO
Os
portões passaram a ser fechados impedindo a saída dos alunos do recinto da
escola até o fim dos respectivos períodos e anotados os horários da saída de
cada professor; os professores, no início, encerravam suas aulas antes dos
cinqüenta minutos, eram liberados pelo DIRETOR em pessoa que descia para
acompanhar o professor e autorizar a abertura do portão. No meio do último
período o Diretor ia para o portão, quando começavam a sair professores antes
do fim do período, ele autorizava, sob vaia generalizada do pátio lotado de
alunos, só liberados ao final do turno. O Diretor sem outros meios iniciais, na
balbúrdia generalizada, trazia à luz do dia e de todos a desordem que campeava;
não aceitava as “fugas” sub-reptícias de professores e alunos. Provocava o
enfrentamento no espaço público, aberto.
ERA O CAOS PULSANDO EXPLICITADO NA SUA GRANDEZA
O
professor de Educação Física entregava uma bola a um aluno da primeira turma da
manhã, que a repassava à segunda, e repassava à terceira e à quarta quando no
final do expediente ele vinha recolher a bola; enquanto isso lecionava em outra
escola, particular. Aos que não pegavam vergonha na cara, no ano seguinte eram
contempla- dos” com horários cheios de intervalos entre um período e outro o
que fazia com que buscassem transferência para escolas menos “hostis”. A
organiza- ção dos horários dos professores era tarefa exclusiva do próprio
Diretor pois “contemplava” aos insolentes remanescentes com amargas esperas
entre um período e outro de aula, na sala dos professores.
Era
o confronto aberto entre quem exigia cumprimento de deveres e de quem pensava
que prestava favores à Escola, ao Estado. Na gravidade da situação não cabiam
punições, mesmo no calor da Revolução, pois a Escola precisava funcionar, ainda
que aos “trancos e barrancos”. Era uma gestão firme e decidida buscando
reverter posturas, com as mesmas dificuldades que trocar um pneu furado, com o
carro em movimento. Para não fugir a regra existiam professores
dedicados,cumpridores e solícitos. Sabiam-se prestando serviço ao Estado.
2
SERVIÇOS
X
SALÁRIOS
Descumpridores
contumazes de suas obrigações tinham suas efetividades não encaminhadas à SEC e
seus salários cortados e pagos posteriormente; como convinha, com atraso...
Trocávamos atrasos... Elas por elas. Fazer o quê...
Pedido
aos professores os programas das suas respectivas disciplinas poucos, muito
poucos, entregavam antes de seis meses; as avaliações dos alunos eram entregues
como favor à secretária da escola, também com meio ano de atraso.
3
REGIME DE DEVERES E
DIREITOS
Vivia-se um regime de favores. Não eram cobrados
deveres nem concedidos direitos. Quem
necessitasse de algum documento tais como vida escolar, atestados,
transferências de cursos e correlatos de uma vida escolar funcional eram sempre
dependentes das disponibilidades dos funcionários.
Havia filas pelas portas e balcões de atendimento dos setores. Os
corredores eram entupidos pelo tumulto do vai-e-vem em busca de respostas.
Vendo ao vivo tais anomalias erradicou o problema instituindo o
PROTOCOLO (não havia!!!). Tudo que
alunos, funcionários e professores pretendessem passou a ser protocolado, encaminhado
ao Diretor e distribuído ao setor competente para uma posição com prazo e sem
escapismos; sem as nojentas fugas de responsabilidades, sem acomodações e
protelações. É claro que substituiu todos os trânsfugas. Acabou o “apagão”. Dos
corredores e dos entupidos gabinetes desapareceram as pessoas e as perguntas
sem respostas acabaram.
Gostassem ou não, elas eram oficiais, sem favores.
Quando fosse o caso, o processo era examinado pelo Diretor que conferia data de
inicio e andamento. No início a preocupação era com o tempo de tramitação,
depois de garantir a “velocidade”, passou a se deter em conteúdos. Passou a se
viver um estado de direito, implodido o de “favores”.
Era mais um momento em que se fazia educação:“ensinando alunos,
professores e funcionários a reivindicar seus direitos explicitando claramente
o que desejavam e a autoridade,respeitando regras e leis, dando respostas”.
É meridiano que a dinâmica da vida escolar é um dos
momentos mais pragmáticos da “educação funcional”.
4
A
PRODUTIVIDADE
CORPO DISCENTE (alunos) foi aumentado em 50% (cinqüenta por cento) no
geral da escola,com recursos provenientes das oficinas e além e apesar disso
com a dispensa , ainda, com a
remoção do excesso de professores e
funcionários.
Foi desencadeada uma ampla campanha de valorização dos CURSOS TÉCNICOS
INDUSTRIAIS, apoiada com cartazes distribuídos por todas as vitrines de lojas
da Grande Porto Alegre e palestras na escolas que poderiam ser fonte de
candidatos, propiciando uma corrida às vagas, que foram duplicadas, mesmo com
uma seleção mais rigorosa no vestibular.
A produtividade emergiu do controle absoluto do uso, a cada cinqüenta minutos, de todos os
espaços destinados ao ensino; dos horários das turmas, por disciplina,
professor, local e quantidade deles; de todos os horários dos professores e de
suas eventuais disponibilidades . Tudo no pulso, não havia computador. Uma
batalha campal.
5
AUTENTICIDADE DOS PRONTUÁRIOS
Considerados aprovados com notas e freqüências adulteradas, após revisão
de equipe de confiança do Diretor, durante as férias, muitos tiveram suas
aprovações revogadas. Mandados de Segurança foram impetrados e ameaças de
processos foram feitas. O Diretor resistiu sempre na defesa da Instituição,
apesar de a Assessoria Jurídica da SEC lhe dizer que se defendesse como pudesse
pois o problema era do Diretor (não é brincadeira,não); se defendia como bom rábula, cheio de
confiança e razão. Não aceitou nunca propostas escabrosas de pais de alunos e
deles mesmos de “recontar” faltas de professores, de “segurar processo”, etc.
Nunca fez “olho branco”e ouvidos moucos por medo de perder o cargo; sempre
viveu com desassombro o dia presente para garantir o futuro da Escola. Não
existia o “não vi”,“não sabia”, “ninguém me contou”. Ia atrás e conferia, via,
sabia e não precisava que lhe contassem sobre tudo do dia a dia; inclusive de
madrugada conferia quando surpreendeu o guarda noturno dormindo, em trajes
menores, enrolado na bandeira do Brasil (o processo está nos arquivos da SEC).
A quantidade de sindicâncias abertas pela SEC, por pedido protocolado do
Diretor, devem estar atulhando o seu arquivo morto.
6
O CAIXA ÚNICO
A instituição da CONTABILIDADE estancou a evasão dos valores por serviços
prestados, até então recebidos pelas oficinas e mesmo das inscrições e
matrículas. Só a Contabilidade recebia e só o Diretor autorizava pagamentos; ao
final do dia conferia com a tesoureira, uma professora de contabilidade, se as
assinaturas eram realmente de sua lavra. A insegurança grassava. Passou a haver
dinheiro em caixa.. As torneiras já não pingavam e a caixa via subir seu nível
de água. Alguns professores “atônitos” vinham o gabinete para saber de onde
vinha "tanto" dinheiro pois nada mais faltava na Escola, nem nas
oficinas..
Resistiu sempre a emprestar dinheiro da caixa
escolar a “fundo perdido”, de “encostar” cheque de subordinados e superiores,
etc, etc, etc. O “assédio moral” era permanente para investir contra os
recursos da caixa escolar.
7
FIM DO VESTIBULAR ÚNICO
Foi extinto o vestibular único para todas as especialidades dos Cursos
Técnicos, realizando-os ou não segundo a procura a cada um. Só os cursos com
grande procura eram alvo de vestibular; nos cursos com procura dentro do número
de vagas estabelecidas, os candidatos eram automaticamente matriculados, findo
o período de inscrição.
Resultado:acabaram as "negociações" de transferências de uns
cursos para os outros. Candidatos menos preparados e mais motivados levaram a
Resultados finais muito melhores aos CURSOS DE ESTRADAS e ao de EDIFICAÇÕES.
8
ENEM PAROBEANO
Foram elaborados manuais, por especialidade de Curso
Técnico,todos os respectivos programas de disciplinas e distribuídos a
todas as indústrias da GRANDE PORTO ALEGRE, de acordo com suas especialidades.
Os respectivos manuais solicitavam que examinassem os conteúdos, que admitissem
os ex-alunos e que lhes cobrassem os respectivos conhecimentos para informar à
Escola se o desempenho estava dentro dos conteúdos que deviam ter sido vencidos
no regime escolar. Era um "ENEM” , quase trinta anos antes do MEC
instituir o seu, buscando avaliar o ensino via valores externos ao sistema
escolar. Queríamos a verdade nua e crua.
9
ESCOLA ABERTA
Duas vezes por ano todas as oficinas e laboratórios
funcionavam com aulas normais durante as tardes de sábados para que pais,
filhos e demais familiares pudessem ver a operação da escola. Até a fundição de
ferro era praticada, com preenchimento de moldes.
10
FOME ZERO
O pavilhão frente à caixa dàgua era refeitório onde
se servia café da manhã, almoço e janta para alunos necessitados. Eram em torno
500 refeições diárias, inclusive sábados, domingo e feriados para os
considerados semi-internos.
11
ATIVIDADES
COMPLEMENTARES
Com recursos financeiros próprios, oriundos de trabalhos das oficinas,
to- dos canalizados para O CAIXA ÚNICO da TESOURARIA, foram construídos, em
cedro, os locais para o funcionamento do Grêmio de Alunos , barzinho,
cooperativa , afora a quadra de basquete e vôlei, com arquibancadas em lajes.
Tais locais passaram a ser referência de atividades,também, em fins de semana.
12
PENALIDADES X TRABALHOS
COMUNITÁRIOS
Com o Diretor, ainda “apavorado” pela desordem, já causava espécie o
clima ajardinado em uma escola técnica. Tudo cheirava
a flores, ordem e limpeza, com ajuda dos “trabalhos comunitários” de
algumas penalidades transformadas. Eis a crônica abaixo que atesta tal postura
administrativo-educacional, há 43 anos.
NEY
GASTAL
CORREIO DO POVO de
08/12/1972, em sua crônica “O PAROBÉ”, a
certa altura, se referindo ao então
Diretor:
...............
“O diretor que assumiu
quando eu estava lá era um alemão alto, meio durão, sempre com o cenho franzido
e sempre apavorando todo mundo. Colocou ordem no setor de disciplina , acabou
com a bagunça no portão, começou a dar um jeito nas oficinas e ... plantou
canteiros. No inicio foi um Deus nos acuda. Os alunos e alguns professores
puseram as mãos na cabeça. Canteiros numa escola técnica. Onde já se viu?
O alemão nem se abalou.
Manteve os canteiros e inventou mais uma inovação: algumas faltas deixaram de
ser passíveis de suspensão. O aluno faltoso era, conforme o caso, obrigado a
tratar dos canteiros.
Outro Deus nos acuda.
Falou-se em mandar cartas para o MEC e até a presidência da república. Mas os
canteiros foram crescendo, crêscendo, crescendo e um dia floresceram:
-Viu que bacana que tá o
pátio?
- É, não é?...
Nunca se mandaram as
cartas. E no dia em que começaram a arrumar o piso que estava afundando e a
construir o novo Grêmio, o alemão
virou herói. Todos começaram a reparar que as escadas já não estavam na sujeira
de antes, que não faltava mais tanto giz e outros detalhes deste tipo. O Parobé
estava melhorando, estava sim!
Durante as férias, naquele
ano, precisei ir até lá e fiquei impressionado com a limpeza. Tudo estava
brilhando, tudo estava arrumado, tudo estava limpo. Fiquei realmente
impressionado. No outro ano terminei o Ginásio e fui para o Julio de Castilhos,
perdão Julinho.
"Os tempos passaram”.
E conclui o jornalista NEY GASTAL .....
“Ontem fui ao Parobé, que
para quem ainda não sabe, é uma Escola Técnica que fica lá perto da Ponte de
Pedra. Os canteiros estão mortos, as escadas imundas, a bagunça é enorme, os
corredores sujos e o ambiente triste. Num aquário de águas sujas um último
peixinho agoniza. A grama virou mato. Não sei quem é o diretor. Não creio que
seja o alemão alto, de cenho franzido. Só sei que é triste, muito triste,
assistir a agonia de uma escola que foi grande e que foi nossa. Por isso só
posso pedir ao Júlio, ao Nilo, ao Willian, ao Ney,ao José Senti Filho, ao
Gelson e a todos os que um dia amaram o Parobé que façam algo antes que seja
tarde. Só peço que não visitem a antigamente orgulhosa Escola Técnica Parobé.
Sei que seria por demais triste para quem um dia viveu nela e com ela".
“Agora apenas me resta
esperar que esta crônica não seja um último e melancólico adeus à escola que
fica no grande prédio que fica perto da Ponte de Pedra. Ela não merece
morrer...”
13
O INTERVENTOR MILITAR NA
SEC
Após solicitação
infindável de informações sobre tudo da Escola, o Coronel Interventor mandou me
buscar para uma conversa no décimo andar do edifício da Carlos Chagas, sede da
SEC; desde logo lhe expus fatos e providências e afirmei que mais do que estava
sendo era impossível. Disse ele, então, da compatibilidade e precisão das
informações que recebia e que continuasse firme na linha que tinha adotado.
Nunca recebi ordem nenhuma; eu ditei e executei toda a política administrativa.
14
UM PRÓ-ATIVO PROMOTOR
PÚBLICO
Quando diretor em Ijuí
recebi, em seu Gabinete, visita do PROMOTOR PÚBLICO DA COMARCA DE IJUÍ.
Desde logo pediu que
fossemos caminhar, mas acabamos sentados em cadeiras de uma mesa do barzinho do
alunos em um saguão aberto e amplo..
Ele disse: a implantação,
desenvolvimento e resultados desta escola técnica tem chamado a atenção da
população bem como as dificuldades que o senhor está tendo de superar com os
políticos. Fale-me e o ajudarei.
Tempos depois nos
encontramos, ele como Chefe de Gabinte do Secretário de Justiça e Segurança e
eu diretor da Escola Técnica Parobé.
Ele queria saber como ia
a situação; quando eu lhe dizia que estava pesada, ele ia até ao Parobé,
estacionava o carro chapa preta do Secretario, em frente a escola , para
conversarmos. A situação melhorava.
Nunca pediu nada e tão
pouco pretendia dar diretrizes; só se disponibilizava para as dificuldades.
Acreditava na minha correção e discernimento.
15
SELVA DE PERFIS DE AÇO
As oficinas e laboratórios
afundavam a cada dia pois que os pavilhões foram construídos sobre terreno
tomado ao Guaíba; as águas chegavam até ao prédio principal, inundando todo o
pátio. Vivia-se o caos. Uma “floresta” de perfis de aço foi fincada chão
adentro, com bate-estacas; sobre elas , em concreto , foram assentados os novos
pisos, com verba federal. Não fosse a resistência cabocla , teríamos federalizado
o PAROBÉ.
16
ANISTIA EM PLENA REVOLUÇÃO
Assumindo a Direção da Escola Técnica Parobé em
fevereiro de 1965, aos 28 anos de idade, no início de 1967 (antes de deixar a direção ao final do ano) chamou o Chefe da Disciplina e lhe pediu para esvaziar os arquivos e colocar todas as FICHAS INDIVIDUAIS DE
ALUNOS, onde se registravam as punições,devidamente ensacados nas proximidades
da caixa-d'água, no meio do pátio, e que providenciasse gasolina. Convidou ao
Presidente do Grêmio de Alunos , no tempo dos ATOS INSTITUCIONAIS, e mesmo
tendo sido levado à Direção pela REVOLUÇÃO, sem que com ela tivesse vínculos e
sem votos de professores, ateou fogo em todo o fichário. Era o primeiro gesto
de anistia, no forte da REVOLUÇÃO.
Queimou todos os arquivos, com a mesma tranqüilidade
com que puniu, pois alunos não poderiam ser vitimas permanentes de dês-
controles político-administrativo de tantos quantos tinham responsabilidades em
bem conduzi-los; por isso, dando fim a tais arquivos, ninguém poderia, no
futuro, atestar indisciplinas registra- das naquele fichário. As penalidades
haviam sido aplicadas e cumpridas. Entendia que aluno de passado só tem
histórico escolar de aproveitamento e que zerar atos de indisciplina faz parte.
ISSO TAMBÉM É EDUCAÇÃO...
Passaram a negociar, Direção e Alunos, face ao
perdão amplo e irrestrito, uma relação de comportamento responsável.
Encerrava-se uma autêntica revolução intestina.
17
UM NOVO MOMENTO
PARA O PAROBÉ
A calmaria na Escola sinalizava o cumprimento de sua
tarefa. No fim do mês de outubro de 67, no início da manhã, chamou seu Assistente
do turno foram para a sacada da frente
do prédio principal, onde o então
diretor lhe disse que sua tarefa estava
concluída.
O PAROBÉ precisava de uma "nova
figura" na direção,
quem sabe se eleito pelos professores para uma “vida de normalidades” . Uma figura com “passado de
força” prejudicaria a educação já que os resquícios são permanentes.
Saindo dali o então Diretor datilografou o documento de transferência da
direção para seu assistente, mandou e viu serem publicados em todos os quadros
de avisos, para consolidar e tornar
pública e irreversível a decisão.
Dirigiu-se, então, a pé desde a “PONTE DE PEDRA”,
sentindo o frescor e a liberdade na sua caminhada subindo pela Borges de Medeiros
até a rua Carlos Chagas, antigo prédio da SEC,
onde comunicou à Subsecretária do Ensino Técnico e Médio que era ex-diretor,
irrevogavelmente. A partir de 1968, o PAROBÉ voltou a eleger o seu diretor e à
democracia plena passou a reinar na plenitude, pelo futuro adentro....
O futuro lhe possibilitaria
treinar mais de dez mil homens em todo o
Estado, desencravar a construção de 40 escolas e mais algumas realizações...
que, ainda, serão mostradas.
A DINÂMICA PROFISSIONAL
Artus James Lampert Dressler foi instalador de Usinas Diesel-Elétricas na CEEE; Professor de Desenho
Técnico; Máquinas e Motores na Escola
Técnica Parobé; Administração Escolar e Introdução ao Desenvolvimento Econômico
no Curso de Formação de Professores no Instituto Pedagógico, atual FDRH; planejador, implantador e Diretor
da Escola Técnica Industrial "25 de Julho"- IJUÍ; Diretor Geral da
Escola Técnica Parobé; Assessor Superior na Secretaria de Educação do Estado;
Fiscal na Rede de Escolas Técnicas Federais e autorizadas no RS/SC; Coordenador
do Programa BNH / DNMO / SENAI/RS; Implantador e Diretor do Centro Regional da
Construção Civil do SENAI/RS; Diretor da Divisão de Ensino da Rede SENAI/RS;
Implantador e Diretor do Complexo Técnico da Rede SENAI/RS; Membro do Conselho
Deliberativo representando o MEC , na Fundação Escola Liberato Salzano Vieira
da Cunha; Coordenador Escolar do CIEE e Supervisor de Estágios no Colégio
Comercial Protásio Alves; Membro do Conselho Consultivo do CIE-E , Gerente de
Recursos Humanos em Lojas Renner S/A; Diretor de Recursos Humanos e Operações
na Lacesa/Parmalat; Bolsista da OEA/ONU, na Espanha; Bolsista da USAID no EEUU;
Bolsista do SENAI, no Peru, Colômbia e México.
Economista, Pós-graduado em
Recursos Humanos, Formado Consultor
Interno de Empresas, Política Partidária, Neurolingüís- tica , Piloto Civil,
Técnico Mecânico,Técnico em Tansações Imobiliárias e Serralheiro.
Ensaísta publicou a "CARA DA ORGANIZAÇÃO", concluiu
"LIBELO" (crítica legal à marcha de um processo trabalhista), escreve
"HIPOCRISIAS e Cia ILIMITADA", afora outros mais rápidos.
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